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segunda-feira, 12 de março de 2012

Desafio do Futuro.

O desafio que se apresenta para o futuro é o da preservação do espaço de militância dentro das organizações não-governamentais. Para isso, será preciso partir de uma transformação na concepção de trabalho dentro dessas organizações, permitindo que suas atuações sejam compatíveis com os movimentos deles derivados. Um projeto de uma área rural, deveria desembocar naturalmente, num envolvimento (guardados os níveis de atuação) junto aos movimentos afins, como o sem-terra, por exemplo.
As ONGs não irão substituir os movimentos sociais. Essa idéia não é incentivada nem pelas ONGs nem pelos próprios movimentos. Pelo contrário, na medida em que os papéis desses atores sociais se tornam cada vez mais claros em nossa sociedade, a tendência é tornar os trabalhos de cada um complementares, na medida em que os preconceitos que sempre persistem sejam postos de lado e que se criem cada vez mais espaços e motivos para a radicalização de propostas e ações.
Cumprindo o papel de formuladoras de políticas públicas, as ONGs atuarão nos espaços em que já estão começando a ocupar: conselhos governamentais paritários, mídia, fóruns amplos, etc. Contribuirão para aprofundar as discussões sobre os temas relativos a sua atuação, além de capacitar os movimentos sociais a elaborar propostas e implementar ações.
Entre esses temas, podemos ressaltar a ação que esses setores sociais terão junto ao Estado. Um divisor de águas que irá apontar as ONGs (e movimentos sociais também!) dispostos a ser ombudsmen do governo, fazendo reproduzir para a sociedade o resultado de uma articulação conjunta que conseguirá apenas concessões premeditadas dentro de um projeto político, revertidas como ganho por parte dos setores sociais envolvidos, mas sempre se situando muito aquém das suas efetivas necessidades.
Derivada desta, mas com as mesmas características, a discussão sobre os possíveis espaços e formas de intervenção também motivará grandes divergências entre ONGs e movimentos sociais. As ONGs cada vez mais se dirigem à opinião pública através de campanhas que valorizam a ação cidadã. A Campanha da Ação da Cidadania, por exemplo, articulou grandes e pequenas ONGs num trabalho conjunto onde, por um pequeno momento, quase que a participação política e a atuação na ação da cidadania se tornaram sinônimos, tamanha era a inserção desta campanha na mídia e o seu poder.
Partindo do princípio que a maior parte da população não toma parte de organizações populares, como então incentivá-la a se organizar, ou, ao menos, a se interessar em obter informações confiáveis a respeito da situação política e econômica do país? As ONGs, na maioria de seus veículos de comunicação, se dirigem para os formadores de opinião em textos de análise estrutural. Os movimentos sociais, a sua maneira, também falam para os seus, não contribuindo para o acúmulo de informação para as suas ‘bases’.
A militância, que, num primeiro momento, descobriu nas ONGs uma nova forma possível de atuação: passar da denúncia à prática, das ‘trincheiras’ à ação conjunta, se vê agora na necessidade de estabalecer as proposições e a própria afirmação política da construção de um projeto alternativo de sociedade como uma marca característica na atuação da sociedade civil.
Do contrário, ao tentar preservar sua sobrevivência e lutar por ela enquanto representante do social junto à opinião pública, as ONGs irão pagar o preço do seu isolamento, resultante de um trabalho que não contribuirá para o fortalecimento efetivo dos movimentos sociais, implicando diretamente numa avaliação negativa sobre o resultado de anos de cooperação para o desenvolvimento.